quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O pobre

Ele chegou e bateu à porta.
Seu cheiro ardia
e sua boca estava torta
de tanto frio e fome.
Pediu dinheiro
ou qualquer coisa
e até seu olhar parecia sujo.

Senti um misto de repulsa e medo,
pena do pobre homem.
Ainda bem que a porta é de ferro com portinhola.
Não impede porém o cão, que late ao intruso.

Vou lá dentro, preparo uma porção
de frutas,sapato e pão
e ele tudo coloca na sacola.

E no momento que nós dois lado a lado
um a abrir e o outro a colocar,
já não sinto mais o medo, o cheiro,
sinto só o par
de irmãos que se trocam a sorte e o azar.
 

Publicado no livro Destaques Poéticos Brasileiros 1987, página 34, editora Realce, Bauru São Paulo.